As três casas de Neruda

Se uma casa é uma espécie de “retrato” de seus moradores, imagine três casas! Essa é a formidável janela para a vida de Pablo Neruda que é possível encontrar no Chile. As habitações, localizadas em Santiago, Valparaíso e Isla Negra, foram imaginadas e executadas sob o comando do poeta, e mostram etapas diversas de sua vida com Matilde Urrutia, seu grande amor.

Em comum, nas três, além do excelente trabalho de recuperação de documentos e manutenção realizado pela Fundação Pablo Neruda e do recurso de folders com mapas associados a audioguias (em inglês, francês espanhol e português), destacamos:

  • os escritos de Neruda;
  • a valorização da paisagem, vista a partir de amplas janelas envidraçadas e sob diferentes ângulos;
  • a presença de obras de arte (de quadros a óleo até máscaras e esculturas);
  • os murais de pedras, confeccionados pela amiga Maria Martner;
  • as coleções (de quase tudo), que eram o hobby do poeta;
  • a preocupação com o lúdico, buscando manter sua criança-interior;
  • os bares para encontro com os amigos, todos muito criativos (simulando um barco, simulando um vagão de trem, para uso no inverno, para dias quentes de verão, e assim por diante);
  • fotos com os amigos conquistados por todos o planeta, entre os quais brasileiros como Jorge Amado e Vinícius de Morais.

Visitar estas casas-museus é mergulhar um pouco na intimidade do poeta ganhador do Premio Nobel de Literatura em 1971. E foi isso que o SOSViagem fez recentemente, quando visitou o Chile no início do ano. Infelizmente, não é permitido bater fotos no interior de nenhuma casa. Mas tentamos registrar nossas impressões.

La Chascona

Os olhos, um dos símbolos da casa La Chascona

LA CHASCONA

Conjunto de três casas unidas com a participação do arquiteto Germán Rodríguez Arias, foi comprada em 1952 para tornar-se ponto para encontro com Matilde, seu então secreto amor. Na época, estava localizada em lugar então pouco habitado, ao pé do Cerro San Cristóbal, próximo ao atual zoológico de Santiago. O apelido, “chascona”, significa descabelada na língua quíchua (indígena), e seria uma referencia aos cabelos da amada.

Pela área central do terreno passava um córrego (hoje aterrado), que descia o morro e foi aproveitado em uma pequena cachoeira sobre um mural de pedras próxima ao bar de verão. Embora tenha sido parcialmente destruída após o golpe militar, na sala de estar (sem vidro e com piso em barro) aconteceu o velório do poeta, em uma das épocas mais conturbadas da história do país.

Essa é a casa mais facilmente acessível, já que se encontra na capital do Chile, Santiago, e perto de outras atrações turísticas. Talvez seja a casa mais memorável, devido aos símbolos espalhados por toda parte. Em destaque, os olhos do poeta, que nos espreitam em diversos locais.

“La piedra y los clavos, la tabla, la teja se unieron:
he aquí levantada la casa chascona
con agua que corre escribiendo en su idioma, (…)
Mi casa, tu casa, tu sueño en mis ojos.” (Neruda)

La Sebastiana

A vista para o Pacífico da casa La Sebastiana

LA SEBASTIANA

Situada no bairro Bellavista, em Valparaíso, esta casa foi comprada em 1959, então dividida com o casal Maria Martner e Francisco Velasco, que ocupava os pisos inferiores. Modificada segundo suas indicações, foi inaugurada em 1961, e recebeu o nome em homenagem a Sebastián Collado, seu primeiro proprietário.

Das três casas de Neruda, essa talvez seja a menos especial. Mas os andares superiores mostram-se excelentes locais para observar o movimento do porto e a magnífica paisagem, como mostra o poema “A la Sebastiana”:

“La casa crece y habla,
se sostiene en sus pies,
tiene ropa colgada en un andamio,
y como por el mar la primavera
nadando como náyade marina
besa la arena de Valparaíso.” (Neruda)

Isla Negra

A área exterior da casa de Isla Negra

ISLA NEGRA

Esta é a casa com projeto mais elaborado (executado entre 1939 e 1965) e com maior qualidade construtiva e de acabamento, que contou com a participação do arquiteto espanhol Germán Rodríguez Arias. Erguida na praia de Algarrobo, em uma área bem próxima à orla, a construção é aconchegante e linear, hora se assemelhando a vagões de trem que se sucedem hora se parecendo com um barco, outra paixão do “navegante de boca” (já que se dizia um comandante de navio que permanecia em terra). Por ela se espalham cerca de 3500 objetos, de conchas e instrumentos de navegação até quadros e carrancas da proa de embarcações. Nela Neruda viveu seus últimos dias (antes de ser internado e morrer, em Santiago). No jardim, olhando para o Oceano Pacífico que se quebra nas pedras escuras, encontra-se a tumba do poeta de Matilde, em local previamente escolhido por ele, que determinou no poema “Disposiciones”, do livro “Canto Geral”:

“Compañeros, enterrame en Isla Negra,
frente al mar que conozco, a cada área rugosa
de piedras y de olas que mis ojos perdidos
no volverán a ver”. (Neruda)

Comparada com as outras casas de Neruda, essa é a que tem o acesso mais difícil, já que fica em uma cidade praiana não muito visitada por turistas e bem longe de Santiago. No entanto, era a casa mais querida de Neruda, é a mais original das três e tivemos a impressão de que é o lugar que abre a maior janela para a alma do poeta. Se você é um fã de carteirinha, certamente vale a viagem.

Para um tour virtual pelas casas de Pablo Neruda recomendamos acessar o site da Fundação Neruda, que inclui curtos filminhos do interior das casas.

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