Eis uma casa diferente. José Saramago nunca morou na “Casa de Saramago”. No entanto ele foi explícito: queria ser enterrado em Lisboa, em frente à Casa dos Bicos, sob uma oliveira, olhando o Rio Tejo. Assim, como suas cinzas ali repousam, sua Fundação fincou seus alicerces sobre as ruínas cuidadosamente estudadas e preservadas, visíveis no térreo. Os andares superiores acomodam o museu em um prédio totalmente novo que se instalou por dentro.
A nossa grande tarefa está em conseguirmo-nos tornar mais humanos”.
A visita começa no pavimento superior, todo pintado de preto, onde fica a enorme biblioteca do autor, e um hall multimídia para aproximar o visitante daquele universo particular.
O que sabemos dos lugares é coincidirmos com eles durante um certo tempo no espaço que são. O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu, o lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa havia transformado o lugar”.
Ligando a continuação da visita, a descida permite o contato com uma arquitetura angulosa, cheia de recortes e surpresas, como o próprio Saramago.
Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro”.
Na exposição permanente “A semente e os frutos”, são expostos os mais de 40 títulos do escritor e suas traduções em muitos idiomas, além de entrevistas, textos avulsos, depoimentos.
Eu não invento nada. Limito-me a pôr à vista. Levanto as pedras e mostro o que está por baixo. Nós somos o outro do outro”.
Entre os elementos em evidência, as polêmicas relacionadas a livros como “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e “Ensaio sobre a Cegueira”. Um grande espaço para o prêmio Nobel de Literatura, de 1998. Muitas imagens. Seu conhecido retrato como ‘homem bomba literário’, feito por Helena Gonçalves (2007), salta tridimensionalmente em uma curva.
Estamos num tempo a que chamamos de pensamento único, embora pareça que se aproxima muito perigosamente de um pensamento zero”.
Mais dois lances de escada e surge a livraria especializada, com poucos souvenires e camisetas, mas com grande quantidade de livros em diversos idiomas e reedições recentes de volumes esgotados, renovando o prazer de reencontrar temas sempre atuais.
Há que introduzir um não para enfrentar o sim, que é o consenso hipócrita em que mais ou menos estamos a viver”.
Ao fundo, um cantinho brasileiro: Saramago e Jorge Amado, encontro de almas. Numa vitrine, a carta que o primeiro escreveu quando o segundo faleceu, datilografada e corrigida a mão. Primorosa. No lado oposto, uma instalação mostra o escritório do autor, visualizável através de dois pequenos rasgos: livros, esculturas, a máquina de escrever na escrivaninha. O voyeur espreita, tenta ouvir a voz do homem que poderia ter estado ali.
Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo”.
Pelos três pavimentos da Casa de Saramago, as ideias do autor surgem em posters inseridos no virar de esquinas ou no final de corredores. Ternos ou contundentes, pensamentos eternamente em evidência nos becos da arquitetura e da mente.
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”.
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